Crítica de Baccano!, Baccano! é uma obra ousada, irreverente e incrivelmente divertida que mistura mistério, ação e elementos sobrenaturais de uma maneira única. Baseado na série de light novels de Ryohgo Narita, o anime segue um enredo não linear, em que várias histórias se entrelaçam de forma frenética, formando uma tapeçaria complexa e cheia de personagens cativantes. Em sua essência, Baccano! é uma celebração do caos – tanto na narrativa quanto nos próprios personagens – e, apesar de sua estrutura fragmentada, é uma das obras mais memoráveis e originais do gênero.
Uma das características mais marcantes de Baccano! é seu ritmo acelerado e a forma como a história é contada. Ao contrário de muitos animes/">animes, que seguem uma linha temporal clara e progressiva, Baccano! apresenta uma narrativa não linear que faz o espectador saltar entre diferentes pontos no tempo. Esse tipo de estrutura narrativa, embora possa ser confuso a princípio, é uma das qualidades que torna Baccano! tão interessante. O anime se passa em várias décadas (principalmente nos anos 1930 e 1931), em que uma série de eventos caóticos se desenrola, envolvendo máfias, alquimia, imortalidade e outros elementos fantásticos. No entanto, o enredo não é apresentado de forma convencional; em vez disso, o público é introduzido a uma gama de personagens que têm suas histórias fragmentadas, e só com o tempo essas peças começam a se encaixar.
Essa abordagem não linear pode ser um desafio para o espectador, pois exige atenção redobrada para entender como as tramas se conectam e como os diferentes personagens influenciam uns aos outros. No entanto, a habilidade de Baccano! em manter o suspense e a energia mesmo com a falta de uma linha do tempo linear é impressionante. As várias histórias que se entrelaçam – desde os mafiosos em um trem até um grupo de alquimistas em busca de imortalidade – criam uma sensação de caos controlado, com a tensão crescente à medida que as peças começam a se unir.
No coração de Baccano! estão seus personagens. Eles são uma das maiores forças do anime. Em vez de seguir os clichês típicos de “herói” e “vilão”, Baccano! se destaca ao apresentar um elenco de personagens multifacetados, muitos dos quais são complexos, excêntricos e, muitas vezes, moralmente ambíguos. Da gangue de mafiosos com personalidades vibrantes, como Firo Prochainezo e Isaac e Miria, aos misteriosos imortais, como Czeslaw Meyer, o elenco é fascinante e, muitas vezes, hilário. O anime brinca com a ideia de imortalidade de forma interessante, apresentando personagens que são imortais há tanto tempo que perderam qualquer sentido de moralidade ou propósito. Isso cria um jogo de poder, lealdade e traição que mantém o público preso à trama.
Firo, o jovem mafioso impulsivo e carismático, é o tipo de protagonista com o qual é fácil simpatizar, mas sua jornada no meio de intrigas e tramas maiores é apenas uma das várias subtramas que fazem o anime brilhar. Isaac e Miria, um casal de ladrões adoráveis e desajeitados, oferecem o alívio cômico necessário em meio ao caos e às cenas de ação intensas, e, ao mesmo tempo, são personagens com mais profundidade do que à primeira vista parece. A dinâmica entre os personagens é uma das mais fortes do anime, pois eles são habilmente trabalhados, com cada um tendo sua própria motivação e papel dentro da história maior.
A série também se destaca em sua forma de explorar a moralidade. Em um cenário onde a imortalidade é possível, muitos dos personagens têm uma visão cínica sobre a vida e a morte, o que leva a dilemas existenciais interessantes. Alguns, como o misterioso e sombrio “Vino”, refletem sobre a perda do sentido da vida após séculos de existência, enquanto outros, como os personagens de Czeslaw, lidam com questões de identidade e crescimento em um contexto sobrenatural. Baccano! não oferece respostas fáceis ou conclusões definitivas, mas sim provoca o espectador a pensar sobre as implicações de viver uma vida sem fim e as consequências de ações impensadas.
Do ponto de vista visual, Baccano! não é um anime excessivamente estilizado ou com uma animação exagerada, mas sua direção de arte é impecável. A estética dos anos 1930, com trens luxuosos, gangsters e ambientes urbanos sombrios, é fiel à época e adiciona uma camada de charme à narrativa. As cenas de ação, embora não tão frequentes, são sempre intensas e emocionantes, com o uso de música e ritmo ajudando a aumentar a tensão.
A trilha sonora, composta por músicos como Taku Iwasaki, é outra característica notável de Baccano!. A música é uma mistura de jazz, blues e outros estilos musicais que capturam perfeitamente a energia vibrante e o espírito do período retratado. As faixas, muitas vezes frenéticas e intensas, servem para aumentar a adrenalina das cenas de ação, ao mesmo tempo que as músicas mais suaves acrescentam profundidade às cenas mais introspectivas.
Porém, Baccano! não é uma obra perfeita. A principal crítica que pode ser feita à série é que, devido à sua narrativa fragmentada, o anime pode ser um pouco difícil de seguir para aqueles que não estão familiarizados com o formato não linear. O ritmo, embora geralmente empolgante, pode ser inconsistente em alguns momentos, e a quantidade de personagens e subtramas pode sobrecarregar um espectador menos paciente. Além disso, o próprio mistério da imortalidade e as implicações filosóficas sobre ela não são totalmente explorados ou resolvidos, o que pode deixar uma sensação de insatisfação para quem busca respostas definitivas.
Em resumo, Baccano! é um anime que desafia as convenções do gênero de ação e mistério, ao mesmo tempo em que entrega uma experiência única e inesquecível. Com uma narrativa não linear que exige paciência e atenção, mas que recompensa o espectador com uma trama fascinante, personagens inesquecíveis e cenas de ação emocionantes, a série se estabelece como uma obra que se destaca tanto pela sua complexidade quanto pela sua diversão. Para aqueles dispostos a mergulhar em seu caos estruturado e apreciar os personagens excêntricos e suas histórias interligadas, Baccano! é uma jornada altamente satisfatória, que desafia a narrativa tradicional e prova que, às vezes, a bagunça é a melhor forma de contar uma história.