Crítica de Baka to Test to Shoukanjuu, Baka to Test to Shoukanjuu (ou Baka and Test: Summon the Beasts) é uma série que, à primeira vista, pode parecer apenas mais uma comédia escolar cheia de clichês, mas ao aprofundar-se em sua estrutura, logo revela um charme peculiar que equilibra o absurdo com uma crítica leve à vida escolar e à competitividade entre estudantes.
Criado por Kenjirou Hata, o anime adapta a light novel de Kenji Inoue, e segue as desventuras de Yoshii Akihisa, um estudante do segundo ano da escola Fumizuki, que se destaca por sua inteligência quase inexistente, e seus amigos, que, embora igualmente imersos em suas fraquezas, tentam conquistar o respeito na escola. A premissa do anime é simples, mas envolvente: em uma escola onde as notas dos alunos definem não só sua posição social, mas também suas habilidades e poderes, as escolas competem através de batalhas onde invocam “avatares” – criaturas que são representações de seus conhecimentos e habilidades acadêmicas.
O maior trunfo de Baka to Test é o seu tom irreverente e autoconsciente. Enquanto outras séries de comédia escolar podem se perder em piadas previsíveis e personagens excessivamente estereotipados, Baka to Test se diverte com seus próprios clichês e joga com eles de maneira inteligente. A série faz um excelente uso da paródia, desafiando o espectador a rir de si mesmo e da banalidade do sistema educacional, enquanto exagera as falhas dos personagens de uma forma que, embora caricatural, ressoa com aqueles que já passaram pela experiência escolar.
Os personagens são a verdadeira alma da série. Yoshii, com sua personalidade exageradamente ingênua e seu desempenho escolar catastrófico, é o tipo de protagonista que você ama odiar, mas sua relação com os outros membros do elenco cria momentos de comédia genuína e muitas vezes até com um toque de calor humano. A dinâmica entre os estudantes da classe F – a classe dos “reprovados” – é um reflexo das diversas formas de rejeição e luta que os jovens enfrentam em sua vida escolar, mesmo que, claro, tudo isso seja abordado com um humor leve e sem grandes pretensões de profundidade.
As personagens femininas, como Mizuki Himeji e Shouko Kirishima, são habilmente construídas para equilibrar a comédia com momentos de vulnerabilidade. No entanto, é inegável que, em muitos casos, elas acabam caindo em alguns estereótipos típicos de animes de comédia romântica, como o “amor platônico” e o “triângulo amoroso”. Mas, em vez de se aprofundar nesses elementos de maneira dramática, a série os subverte com piadas e situações cômicas, evitando que o enredo se torne pesado ou previsível.
O sistema de batalha – onde as habilidades dos alunos são representadas por seus avatares, que lutam para garantir a superioridade da classe – oferece um cenário interessante para o confronto de egos e a competição entre os estudantes. É uma maneira divertida e criativa de adicionar um elemento de ação à trama, sem que isso sobrecarregue o tom leve e cômico da série. Embora não seja um destaque em termos de qualidade de animação ou de ação, a simplicidade e o humor nas “batalhas” são mais do que suficientes para sustentar a proposta da série.
Ainda assim, a estrutura de Baka to Test não é perfeita. A série, por vezes, recai em excessos de fanservice e piadas forçadas, que podem ser desconfortáveis para alguns espectadores. A falta de desenvolvimento profundo dos personagens, particularmente nas questões emocionais e de crescimento pessoal, pode ser vista como uma limitação, já que a série se foca tanto em seu humor e nas situações absurdas que os personagens enfrentam, que fica difícil realmente sentir algum tipo de apego ou envolvimento emocional com eles.
Por outro lado, esse mesmo foco em situações cômicas e de descontração é o que torna Baka to Test uma experiência divertida, especialmente para aqueles que não estão buscando algo muito sério ou reflexivo. A série é uma fuga para a leveza e o absurdo da vida escolar, e em momentos de pura diversão, ela é eficaz.
Em suma, Baka to Test to Shoukanjuu é uma comédia escolar que sabe ser exagerada e até absurda, mas ao mesmo tempo sabe reconhecer e explorar as falhas de seu próprio enredo e personagens. É uma obra que, longe de tentar ser uma representação fiel da vida escolar, se utiliza de um tom irreverente e bem-humorado para explorar temas como competitividade, amizade e, principalmente, a ideia de que nem sempre somos os mais habilidosos, mas todos têm seu valor e seu espaço para brilhar. Se você entrar no clima da série, ela oferece muitas risadas e momentos agradáveis, mesmo que não seja uma obra que vá deixar uma marca profunda no espectador.