Crítica de Bakemonogatari, Bakemonogatari, uma das obras mais notáveis do estúdio Shaft e do diretor Akiyuki Shinbo, apresenta uma narrativa complexa que mescla diálogos rápidos e profundos com elementos visuais extremamente estilizados, criando uma experiência única e, ao mesmo tempo, desafiadora. Adaptada da obra de Nisio Isin, a série consegue ser ao mesmo tempo acessível e enigmática, exigindo do espectador uma interpretação ativa e um olhar atento.
Em termos de enredo, a série gira em torno de Koyomi Araragi, um estudante que se envolve com uma série de garotas que sofrem de fenômenos sobrenaturais. Cada episódio foca em um personagem específico e nos dilemas que essas entidades trazem para a vida delas. O ponto forte da obra é a maneira como ela lida com os temas da identidade, das relações e do crescimento pessoal, abordando-os com profundidade e sutileza. A complexidade das personagens femininas, que são ao mesmo tempo vítimas e heroínas de suas próprias histórias, é um dos maiores trunfos da série, oferecendo um contraste interessante ao protagonista Koyomi, que, apesar de ser a figura central, muitas vezes aparece como mais um observador do que alguém com poder real sobre a situação.
No entanto, a escrita de Nisio Isin pode ser polarizadora. O ritmo dos diálogos é acelerado e saturado de trocadilhos, referências culturais e jogos de palavras, o que pode ser um atrativo para quem aprecia um estilo literário mais denso, mas também pode afastar aqueles que buscam uma narrativa mais direta e objetiva. O uso constante de metáforas e a construção de uma linguagem única acabam tornando o espectador mais envolvido na estética verbal do que na trama propriamente dita, o que nem sempre é algo positivo.
Visualmente, Bakemonogatari é uma obra-prima em termos de direção de arte. A estética inconfundível do estúdio Shaft, com seu uso criativo de cenários minimalistas, cortes abruptos e simbolismos visuais, cria uma atmosfera que constantemente joga com a percepção do espectador. Os cenários parecem vivos e carregados de um simbolismo que ajuda a reforçar os temas de cada episódio, mas ao mesmo tempo, podem ser uma distração para aqueles que não estão familiarizados com o estilo visual altamente estilizado de Shinbo.
A animação, embora não seja da mais alta fluidez, compensa com sua ousadia e dinamismo. As sequências de ação, mesmo sendo relativamente limitadas em comparação com outras séries, são visualmente impactantes, devido à forma como os elementos da cena são manipulados de maneira não convencional. É um tipo de “animação pensada” onde o foco está no estilo e na atmosfera, e não em movimento contínuo.
O maior mérito de Bakemonogatari, contudo, reside em sua capacidade de lidar com temas profundos e até mesmo filosóficos sobre a natureza humana, identidade e aceitação de nossas imperfeições. A maneira como cada arco de personagem é resolvido, mesmo com a resolução de um fenômeno sobrenatural, traz uma reflexão sobre como lidamos com nossos próprios demônios, seja psicológicos ou metafóricos.
Porém, a série não é isenta de críticas. A abundância de diálogos e a ênfase na verbalização dos sentimentos das personagens pode acabar tornando o ritmo cansativo em alguns momentos. O foco excessivo em conceitos abstratos e teorias psicológicas também pode alienar alguns espectadores que procuram uma experiência mais focada em ação ou trama direta. Além disso, o papel de Koyomi, apesar de ser central, muitas vezes o coloca em um papel passivo que limita o impacto de suas interações, embora ele seja essencial para o desenvolvimento das personagens femininas.
Em resumo, Bakemonogatari é uma série que exige paciência e apreciação pela experimentação narrativa e estilística. É uma obra que se destaca pela forma, pela riqueza de suas personagens e pela profundidade dos temas abordados, mas ao mesmo tempo pode ser excessivamente densa e difícil para quem não está disposto a se imergir totalmente nesse universo particular. Para os que aceitarem esse desafio, Bakemonogatari se revela uma experiência que transcende o anime convencional, tornando-se uma reflexão provocativa sobre os fantasmas – tanto literais quanto metafóricos – que carregamos dentro de nós.