Lembro-me bem da minha empolgação quando assisti Medabots pela primeira vez. Era o auge da febre dos animes com criaturas colecionáveis, e a ideia de robôs personalizáveis que batalhavam por glória e peças melhores era simplesmente incrível. O protagonista, Ikki Tenryou, e seu Medabot rebelde, Metabee, tinham uma dinâmica divertida, com aquele clássico “moleque esforçado e parceiro cabeça-quente”.
Mas, revendo hoje, percebo que Medabots era uma mistura de grandes ideias e algumas falhas difíceis de ignorar. A estrutura repetitiva dos episódios Ikki encontra um adversário, Metabee reclama, tem uma batalha, perde ou quase perde, mas depois vence no final acaba deixando tudo previsível. Além disso, a história principal demora para engrenar, enquanto o anime se apoia em vilões genéricos e piadas recorrentes que nem sempre funcionam.

Outro problema é o próprio protagonista. Ikki não é exatamente carismático, e sua insistência em economizar para comprar peças novas parece até uma alegoria sobre a frustração infantil de não ter dinheiro para brinquedos. Já Metabee é o ponto alto, com sua atitude marrenta e frases engraçadas, mas até ele se torna um pouco cansativo quando suas birras se repetem.
Ainda assim, Medabots tem méritos. O conceito de Medapartes, a ideia de estratégia nas batalhas e a trilha sonora cheia de energia são aspectos que marcam até hoje. Se você tem um carinho especial pelo anime, é compreensível ele faz parte daquela fase dourada da infância. Mas se for reassistir, esteja preparado para um ritmo lento, diálogos repetitivos e a sensação de que poderia ter sido muito mais do que realmente foi.

No fim das contas, Medabots é como aquele brinquedo que você adorava quando criança: ainda tem seu charme, mas ao olhar mais de perto, percebe que ele era mais legal na memória do que na realidade.
Isso não significa que Medabots seja um anime ruim longe disso. Ele tem seus momentos brilhantes, como algumas batalhas memoráveis e aquele ar de aventura juvenil que fez tanta gente se apaixonar por ele. Quem não se lembra da primeira vez que viu Metabee ativar seu modo berserk, ou da emoção de descobrir novos Medabots e suas habilidades únicas?
O problema é que, com o tempo, fica difícil ignorar como o anime parecia sempre evitar explorar seu próprio potencial. A Liga Mundial de Robôs, por exemplo, poderia ter sido um torneio épico, mas acaba ofuscada por vilões genéricos e um roteiro que insiste em voltar para a mesma fórmula do “desafio do dia”. O próprio universo de Medabots tinha tudo para ser mais profundo—afinal, estamos falando de um mundo onde crianças têm robôs superavançados como parceiros, mas as implicações disso nunca são realmente exploradas.
E vamos falar a verdade: os “vilões” da Equipe Tormenta eram, no máximo, irritantes. Eles tentavam ser uma versão cômica da Equipe Rocket, mas sem o mesmo carisma. Suas aparições constantes e trapalhadas forçadas tornavam qualquer ameaça que representavam algo praticamente inexistente.

Mas talvez a maior frustração de Medabots seja a falta de evolução. Diferente de Digimon, onde os protagonistas e seus parceiros crescem e enfrentam desafios reais, ou Pokémon, que sempre encontra um jeito de reinventar a jornada, Medabots parece preso em um loop. Ikki não amadurece tanto como personagem, Metabee continua sendo teimoso até o fim, e os conflitos raramente têm peso real.
Claro, para quem cresceu assistindo, a nostalgia pesa. A abertura continua sendo um hino da infância, e só de ouvir aquele “Medabots! Lutar é poder!” já dá vontade de pegar um controle e procurar um dos jogos da franquia. Mas, se olharmos friamente, Medabots é um daqueles animes que brilharam em um momento específico e nunca conseguiram sair da própria sombra.
Se você o revisita hoje, vai se divertir? Talvez. Mas é um daqueles casos onde a memória da infância acaba sendo mais divertida do que a experiência real de reassistir.